Agora sim, falemos de arte.
Um dia fiquei empolgado porque topei com o presidente de um país vizinho no trabalho. Comentei com meu ex-chefe, que retrucou: "os políticos já não me encantam. Emociono-me muito mais com os artistas".
O vídeo abaixo é exemplo de arte, da mais fina. Perfeito casamento entre filme e música. Assim como o espanhol, Peri, acho que qualquer língua pode ser bela, bastando haver arte no que se faz. Neste caso, é italiano (você fala italiano, afinal?).
Pequenas observações, conectadas com o que já se falou aqui:
- Noto, nos fimes antigos, que os casais não eram muito jovens. As moças lá pelos seus vinte-trinta e os rapazes-garanhões com certeza depois dos vinte e cinco, mas muitas vezes lá pelos quarenta ou mais. Com raras exceções - como um Sean Connery fazendo galã aos sessenta - aposenta-se o amor muito cedo hoje. Nos filmes atuais, o romance ocorre aos desesseis ou antes, como a Juno ou, no máximo, Brangelina. Mas não é o mesmo romance. Um amor maduro tem uma profundidade que não se alcança na juventude. O artista maduro também. Com exceção de um Mozart precoce, que foi exceção em tudo, a maturidade artística vem com a idade. Brahms que o diga. Para ouvir e sentir, tem que ter mais de 30.
- Final feliz. Porque a vida não tem final feliz? Por que fizeram algo estranho, que emenda começo com meio e reinício, interrupção e depois um fim quase sempre abrupto? Se Deus fosse artista, teria feito um "Fine" como este. Vai ver, Deus é parente do Kandinsky (que era artista também, mas que é difícil de entender).
- O amor ardente. Onde foi parar? Por que já não se vive mais romance assim? De cantar e de chorar? Será que vivemos um amor de supermercado, cortado pela novela das nove? Não temos tempo livre para simplesmente... sentir?
- O silêncio. Reparem na pausa dramática, no fim da música. O silêncio dolorido. Não faltam pausas dramáticas em nossas vidas?
- O que é a vida... tão linda a Gigiola Cinquetti neste vídeo. Como terá sido seu fim?
- Nostalgia. Nostalgia é saudade daquilo que não se viveu.
Por fim, deixaram um belo post no youtoube, justamente em espanhol: "respiro mejor el dolor, con el sonido del amor, aunque esté lejos".
Dio come ti amo!
Mi vien da piangere,
in tutta la mia vita
non ho provato mai
un bene così caro,
un bene così vero.
Deus como te amo!
Dá-me vontade de chorar,
em toda minha vida
não provei nunca
um bem assim tão caro,
um bem assim tão verdadeiro.
Até que enfim é sexta-feira
Há 12 anos
3 comentários:
É lindo mesmo. Ótima escolha. :)
Essa música é um clássico italiano. O filme eu não conhecia, mas descubro na wikipedia que é uma produção hispano-italiana (olha aí!) de 66. Descubro também que o filme serviu pra divulgar outras canções da mesma Gigliola, entre elas outro clássico (ao menos na minha infância): Non ho l'etta.
Hoje soa cafona. Na época era o supra-sumo do romantismo. Os parâmetros de arte (assim como os do amor) mudam com o tempo.
Ainda arranho o italiano, mas entendo bem e me dá o maior prazer ouvir. Comédias italianas são as que mais me divertem: acho que a língua é naturalmente engraçada. Ou seria o tipo de humor, que me
remete à infância?
Quanto aos hispânicos, nem me referia à língua, mas á cultura mesmo. Tem algo ali naquele sangre caliente que me desperta. Menos culpado e melancólico que o lusitano. Menos pio que o italiano. Acho que as touradas inspiraram os espanhóis a "entrar de chifre" nas velhas convenções.
Muita luta, muito sangue derramado na América, muitos pecados originais como todo colonizador. Mas eles expiam a dor com uma Guernica, com relógios derretendo de Dali, com caleidoscópios de Fito, cronópios de Cortázar, cores de Almodóvar, abismos de Gaudí.
E pra não perder a chance de levantar uma polêmica:
Esse negócio de idade é muito, muito, relativo. Para ficar em dois exemplos nacionais consagrados: Chico e Caetano. O auge da inspiração - farta e variada - veio da inquietação jovem, do idealismo e da ousadia. O tempo pode tê-los amadurecido internamente, mas fez sumir aqueles gênios criativos. Caetano tenta, num esforço comovente, aproximar-se dos jovens para tentar reencontrar a fonte de inspiração. Sem muito sucesso (para o meu gosto). Chico virou escritor bissexto. Ainda amo seus mais recentes CDs (o último de 2006). Mas é outro tipo de arte, lapidada e paciente como condiz ao seu estágio de vida (e ao meu).
Pobre da arte sem o ímpeto revolucionário dos jovens.
ps.: Fito Paez está na casa dos 50. E mantém a virilidade.
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