Sabe quando você gostaria de ser outra pessoa?
Queria ser outro para fazer aquelas coisas que eu faria se não fosse eu.
Seria eu mesmo fazendo, mas seria outro.
Imagino um eu estar numa praia em Miami, bronzeado, surfando, bebendo, festando.
Um outro eu poderia estar lendo Pa-larvas, com todo o tempo, admiração e prazer.
Um eu mais novo poderia estar começando a namorar agora, dando o primeiro beijo, deixando a primeira namorada, indo para a primeira viagem.
Um eu mais velho tocaria violino em uma orquestra.
Um incerto eu mais inescrupuloso poderia estar saindo com aquela puta das pernas lindas, minissaia e cabelo falso, puro tesão.
Mas um eu talvez estivesse caminhando agora à noite, sentindo a brisa, o cheiro do mato, sentindo o chão de terra nos pés descalços.
O fato é que eu, não um eu outro, estou aqui, preso no meu id.
*id: substantivo masculino
Rubrica: psicanálise.
sistema básico da personalidade, que possui um conteúdo inconsciente, por um lado hereditário e inato e, por outro, recalcado e adquirido, de acordo com a segunda teoria freudiana do aparelho psíquico
Até que enfim é sexta-feira
Há 12 anos
3 comentários:
Eu sei. Eu sei tanto.
Este é um tema que vai e volta tantas vezes na miha terapia. Depois que fiz 35 anos ficou bem mais critico (dei por mim que estou passando, se já nao passei, da metade da vida).
Não vale, cheguei por último pra dizer o mesmo: sempre fiquei louco com essas infinitas possibilidades de "eu" não vividas.
Parece ser um mal comum (pós-moderno?). Mas que pode ter seu próprio antídoto: compartilhando-se o sentimento, vive-se um pouco de outras vidas quando se está com os outros.
A questão é como escolhemos (ou conseguimos) ver a existência (na verdade, acho que esta é A questão geral). Se me sinto "preso", isso não mudará mesmo que vire marinheiro, gigolô, cineasta ou mude de cidade ou escolha sexual a cada semestre. Porque sempre estarei "não sendo" outra coisa.
Por outro lado, nosso eu, aparentemente tão mirradinho, comporta uma liberdade de ação e alternativas que tende ao infinito. O problema é reconhecer e saber o que fazer com nossa potência. Ela tem seus riscos.
Estar em paz interna pode representar a plena felicidade de ser simplesmente eu, sentado num sofá vendo TV.
Às vezes a vida dos outros parece mais interessante. Mas só parece. Se a vida que tenho é a minha, e isso é fato consumado, relaxo e gozo.
Não tenho isso de achar que a vida do outro é mais interessante. O que tenho mesmo é de achar que eu tinha que viver 10 vidas, simultaneas. :|
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